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Colunistas

13/01/2016

O real problema de Ângela Merkel - por Edgar Welzel*, de Stuttgart, Alemanha

O assunto do ano é a maciça onda migratória que preocupará a mídia e a opinião pública também nos anos vindouros. Os problemas que o movimento desencadeou dominam a atual política europeia e não poderão ser resolvidos a curto ou médio prazo

Se é que poderão...

Uma legião de vítimas de guerras, de perseguições religiosas, famintos, homens, mulheres, crianças, enfermos, paraplégicos e desesperados sem esperança para dias melhores, movimentam-se em direção à Europa. Uma dupla tragédia que atinge em primeiro lugar os milhares que se puseram a caminho e, em segundo, sacode o Continente. Nenhum homem de estado, nenhum político tem ideias práticas compatíveis com os regulamentos europeus de como resolvê-la; e ninguém poderá predizer, com um mínimo de certeza, até quando durará este movimento.

A União Europeia, em seus quase setenta anos de existência, nunca se encontrou tão desunida como nos dias atuais. Diante desta crise, a União transformou-se em Desunião Europeia. De momento, vale o caos e o princípio do “salve-se quem puder”. Acusações recíprocas entre líderes da política europeia atingem limites até agora não usuais.

As imagens transmitidas diariamente dos acontecimentos nas diversas fronteiras da ruta balcânica são tão alarmantes quanto trágicas. Diante deste quadro muitos europeus se perguntam: “Afinal, como é que poderemos dar assistência a tanta gente?”

A pergunta suscita preocupações. Em consequência, nasce o medo que provoca xenofobia, um campo ideal para populistas radicais da direita ou da esquerda. O alicerce da “Casa Europeia” da qual falava Michail Gorbatschow, sofreu perigosas rachaduras que ameaçam desabar o prédio.

A União Europeia, em verdade, confronta-se com dois problemas, ambos cruciais: primeiro, dar conta dos milhares de refugiados dos quais apenas 10% talvez terão chances de serem integrados no exigente mercado de trabalho europeu; os demais terão que ser alimentados por conta do Estado sem nunca terem contribuído nem para os cofres públicos nem para o seguro social. Segundo, evitar que a “Casa Europeia” desabe. Ninguém poderá dizer qual dos dois é o problema de maior vulto. No entanto, poder-se-á preconizar que ambos são um estopim capaz de desencadear uma série de consequências com maiores repercussões. Jean Asselborn, ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, em entrevista à TV resumiu: “A Europa não só tem o maior problema humanitário desde a 2ª Guerra Mundial; tem, além disso, o grande problema de evitar o desmoronamento da Casa Europeia”.

Alguns países dos Bálcãs e do leste europeu como a Romênia, a Bulgária, a Sérvia, a Hungria e a Polônia negam-se categoricamente em abrigar refugiados a longo prazo. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, em reunião com os chefes de governo da região apresentou-lhes um plano de 16 pontos que visa amainar a situação na região. O plano foi refutado na maioria dos pontos. Zoran Milanovic, chefe de governo da Croácia, fulminou: “Quem escreveu isto não entende nada do assunto”.

Afirmar que as cenas que presenciamos ao longo da ruta balcânica, divulgadas à exaustão pela mídia, são a consequência de um movimento súbito e inesperado, é afirmação infundada. Fato é que, há vários anos, centenas de milhares de refugiados já atravessaram o Mediterrâneo e ninguém poderá precisar a cifra exata dos milhares que pereceram.

Enquanto a maioria dos países ao norte dos Alpes brilhavam por inércia, os países do sul, como a Itália, Grécia e Turquia viam-se às voltas com o infindável número de refugiados que aportavam, como náufragos, em qualquer lugar de suas costas ou em uma das ilhas gregas. Autoridades destes países clamavam por auxílio de Bruxelas e dos demais países da União Europeia. Estes faziam-se de surdos pois achavam que o problema era de competência dos do sul. Auxílio de Bruxelas, apenas em doses homeopáticas.

Em abril de 2015, após um naufrágio no Mediterrâneo no qual pereceram mais de mil pessoas, a União Europeia decidiu enviar uma frota multinacional de navios com a incumbência humanitária de salvar náufragos. A missão está sob o controle da Frontex, organização europeia encarregada da proteção dos limites exteriores da União.

Graças a medida já foram salvos milhares de náufragos que, adicionalmente, foram entregues aos cuidados das autoridades italianas e gregas (por terem sido salvos em águas territorias destes países) apesar de, há vários anos, já abarrotados com a problemática. A missão continua e os resgatados do Mediterrâneo continuam sendo “descarregados” na Itália e na Grécia. Solidariedade europeia? Pouca!

Ninguém, portanto, poderá afirmar que as cenas de caráter quase dantesco que, de momento, presenciamos na ruta dos Bálcãs, é o resultado de um movimento súbito, inesperado. Fato é que a Europa simplesmente negligenciou o problema que, claramente, há anos, se anunciava no horizonte.

A União Europeia reluta em fechar suas fronteiras exteriores com muros, cercas ou coisa parecida. O governo da Hungria em desacordo aos ditames de Bruxelas e dos regulamentos do Tratado de Schengen, mesmo assim construíu uma cerca entre a Hungria e a Romênia e a Sérvia. Victor Orbán, chefe de governo da Hungria, explica: “A Hungria é um país com limites exteriores da União Europeia. Nossa incumbência é proteger estes limites. Estamos fazendo apenas isto”. A medida de Orbán foi altamente criticada a nível europeu mas atrás dos bastidores muitos comentam ser esta a única medida com efeito.

Mesmo assim, a União Europeia não poderá pô-la em prática. Divisas fechadas com cercas ou muros não impediriam a vinda de refugiados. Em breve se concentrariam aí milhares de indivíduos que não suportariam vegetar ao relento durante o inverno prestes a chegar. Um drama que Bruxelas, com justa razão, terá que evitar.

A pergunta crucial é o quê, em hipótese, aconteceria caso a União Europeia junto com a comunidade internacional conseguiria interromper o fluxo migratório nas rutas via Bálcãs? Encontrarão os desesperados e famintos deste mundo outros caminhos?

Estatísticas da “United Nations Population Division - Population Prospect” revelam que a população de alguns países da África, especialmente os da região do Sahel e do sul do Sahara, quase que triplicou à partir de 1950 até hoje, isto é, num período de apenas 65 anos. Funções fundamentais como educação, saúde, saneamento, água potável, desenvolvimento agrícola não acompanharam o crescimento demográfico encontrando-se nas mesmas condições subdesenvolvidas de 1950.

Milhões de desesperados da região, na maioria jovens, estão de trouxa pronta, no aguardo de uma oportunidade para iniciar a viagem ao norte, em direção à Europa. A nova ruta dos Bálcãs passará pela Líbia que, nos tempos de Muhamad al Gadhafi, recebia apoio financeiro da União Europeia para impedir o trânsito do sul do Sahara à Europa. E Gadhafi impediu!

Com a morte de Gadhafi a Líbia transformou-se num país não governável apesar de ter dois governos; um em Tobruk, outro contragoverno islamístico em Trípolis, que se combatem reciprocamente. Em princípios de 2014 as Nações Unidas encarregaram Bernardino Leon, diplomata espanhol, para unificar os dois governos conflitantes e terminar com a guerra civil na Líbia. Em 8 de outubro passado, após mais de um ano de trabalho, em um encontro em Skhirat, no Marroco, Leon apresentou seu plano para unir ambas as partes conflitantes. “Esta é a última chance para salvar a Líbia”, enfatizou o diplomata.

O plano de Leon parecia ter êxito. Infelizmente ambas as partes conflitantes recusaram-no. Em consequência o desmembramento total da Líbia parece inevitável. Alguns clãs étnicos mantêm o controle apoiados pelo Estado Islâmico que já domina uma extensão de 200 quilômetros de costa marítima nas imediações de Sirte. Terroristas, aventureiros, traficantes e intermediários encontram aí um campo livre. Mais de um milhão de líbios já deixaram o país em direção ao Egito e à Tunísia. Para a Europa a total ruptura da Líbia é um cenário apocalítico. Um cenário para o qual a própria Europa contribuiu.

A ruta através dos desertos é quase tão perigosa quanto a travessia do Mediterrâneo em primitivas embarcações. Há comentários que nesta travessia já morreram tantos quanto através do Mediterrâneo. Um detalhe até agora pouco ou nada registrado.

Enquanto isso continua a guerra fratricida na Síria onde Bashar al-Assad não só luta contra o Estado Islâmico. Ao todo al-Assad luta contra nove diferentes grupos, alguns dos quais se combatem entre si. Quem é que pode viver num país destes? O número de refugiados tende a aumentar.

Justamente nesta altura do texto leio na tela do computador ao lado uma notícia divulgada neste momento pelas Nações Unidas: “Um total de 218 mil refugiados atravessaram o Mediterrâneo só no recente mês de outubro passado. Este número corresponde ao dobro dos que o atravessaram duranto todo o ano de 2014!”

Na Alemanha a chanceler Ângela Merkel, apesar de seu alto prestígio internacional, está sob forte pressão interna tanto da base de seu próprio partido como dos dois partidos aliados. Muitos a criticam por ter sido ingênua em permitir, com sua política do “bem-vindo”, a entrada descontrolada na Alemanha de milhares de refugiados retidos na fronteira da Hungria.

O assunto divide a nação e Ângela Merkel diplomaticamente já amainou sua mensagem inicial do “nós vamos dar conta disso” em “nós vamos dar conta disso com o apoio da União Europeia”. Mas a maioria dos países europeus não simpatizam com a política do “bem-vindo” e negam-se em aceitar ou permitir a entrada de refugiados em seus países.

Em círculos políticos da Grã-Bretanha comenta-se que a política do “bem-vindo” de Ângela Merkel foi um grande erro histórico pois teria motivado muitos à procura de uma vida melhor na Europa. Para muitos, a Europa é a Alemanha! Eis aí o real problema de Ângela Merkel...e dos alemães.


*Edgar Welzel é jornalista, gaúcho, radicado em Stuttgart, Alemanha.
E-mail: edgarwelzel@web.de 



Comentários

deslogado
fgh 20/03/2017, às 00:34

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