Porto Alegre | Vira-latas infestam a capital gaúcha às vésperas dos 250 Anos

Sílvio Aloysio Rockenbach, editor Grupo de Mídia BrasilAlemanha, 26 01.2022

Porto Alegre já não é mais a mesma. A Orla do Guaíba virou xodó dos porto-alegrenses. Abraçada por cidadãos visionários na década de 90, eles enxotaram o paredão de concreto, que aparecia nas maquetes projetadas pelo capital especulativo. Para tirar o Guaíba do incrível e histórico abandono, a orla mereceu uma nova chance. O então prefeito José Fortunati, enfrentando novas resistências, peitou um sonho ousado com o arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, nomeando-o ‘hors concours’, por notável saber, para a elaboração de um projeto dos sonhos que não pôde realizar em sua Curitiba “por falta de um rio ou lago adequado”.

A liberação do inovador Trecho 1 desencadeou uma onda de simpatia e otimismo, bem ao estilo do notável sanitarista e escritor Moacyr Scliar, primeiro grande homenageado. E o prosseguimento acelerado de todos os demais segmentos desta nova interface do porto-alegrense com seu rio, hoje lago, encontrou no atual prefeito Sebastião Melo um tocador de obras à altura da projeção da “mais bonita orla urbana brasileira” ao longo de 17 quilômetros de exuberantes realidades, perspectivas e sonhos cada vez mais próximos.

A tudo isso, veio juntar-se a decisão de uma urgente revitalização total do degradado centro histórico da capital. Os primeiros prédios com monumentais pinturas de inspirados grafiteiros vão se associando a pequenas melhorias emergenciais e prioritárias, enquanto se arma um quadro de total remodelação de um bem definido e abrangente Quadrilátero Central, por ora com duas licitações frustradas por insuficiência de atrativos finaneiros. Que se faça então a devida reengenharia de licitação, cercada de todos os atrativos que o inadiável projeto merece, na certeza de que beleza atrai e gera investimento.

Também o renovando Cais Mauá, monumental obra de sucessivos governos e aportes da empreendedora sociedade gaúcha das primeiras décadas do séulo 20, projeto do Eng. Cândido Godoy, execução de engenharia de Rudolf Ahrons, com as obras iniciadas em 1911, estendendo-se ao longo de várias etapas e décadas, com grande impulso sob o presidente da província Borges de Medeiros na década de 1920. Mais recentmente, após mais uma destas décadas de tristes de pendengas de cobiça e ineficácia às custas do bem comum, o projeto do Novo Cais já apresenta pelo menos uma amostra de soluções esplendorosas no estilo Cais Embarcadero, reservadas ao grandioso espaço, ainda mais que os Poderes Estadual, sob Eduardo Leite, e Municipal, sob Sebastião Melo, finalmente dão mostras de modelar sintonia na equação de desafios que lhes são comuns.

Não bastasse tudo isso, vemos ressurgir a luminosa ideia da reativação do dançante chafariz da Copa no Largo Glênio Perez junto ao Mercado Público, que finalmente terá sua recuperação em seu comprometido segundo andar após incêndio de proporções em 2013; o encaminhamento defnitivo de uma solução para o “Esqueletão”, abandonado desde os anos 60 do século passado, a esperada reformatação total da outrora vistosa Av. Farrapos, unindo o hoje oportuníssimo Fraport Airport Porto Alegre ao Centro histórico; a recuperação exponencial do 4º Distrito, com o Instituto Caldeira, como criativo centro de saber e lazer. Se a tudo isso acrescentarmos as projeções de um South Summit no final de março e um possível Web World Summit 2022; de um Parque da Harmonia evoluindo de um festejado Acampamento Farroupilha para um super-estruturado, moderno e privilegiado centro de celebrações culturais multiétnicas; o surgimento de um ousado complexo gastronômico em pleno Parque Farroupilha; a entrega do Museu da Cidade no prédio da Antiga Prefeitura na Praça Montevidéu, bem como do segundo andar do Mercado Público finalmente recuperado do incêndio de julho de 2013, e do Teatro Túlio Piva na Cidade Baixa, tudo em previsão até o final de 2022, ao lado da plataforma digital dos 250 Anos, que centralizará todos os atos e comemorações do Calendário de Eventos dos 250 Anos, teremos uma antevisão do quanto Porto Alegre merece e pode evoluir.

Além de tanta notícia e perspectiva boa, só falta a definição do “vai ou não vai Centro de Convenções da cidade e do Estado”. Para meu gosto, convicções e convenções, ele já está pronto, em lugar estratégico, subutilizado, passível de ajustes e expansões, chamado Parque de Exposições Assis Brasil de Esteio, a meio caminho entre a capital e as cidades industriais e universitárias de Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo e de fácil acesso por toda a malha viária do EStado!

Com tantas soluções à vista e a prazo, onde está o problema dos viralatas? Pois é, não é o que você pensava. Vamos deixar os simpáticos quadrúpedes de toda estirpe, nobre ou sem estirpe, de lado. Se você é chegado a Nelson Rodrigues, já está chegando mais perto, mas também o incensado viralata do agudo analista do povo brasileiro não é o inspirador imediato, embora indireto, desta conversa que está chegando ao fim.

Você, por exemplo, não encontra este viralata em Gramado, Canela, Nova Petrópolis e talvez em mais algumas dezenas de cidades do nosso grande e amado Rio Grande e até do nosso enorme e idolatrado Brasil. Mas em Porto Alegre, este viralata ataca, agride e mata! Já adivinhou? Será que também sou um deles? Na ressurgente capital dos pampas, você entra no carro e vira lata…! Do tamanho da lataria do seu companheiro de viagem. Você vira lata Mercedes-Benz, BMW, Audi, GM, Ford, VW, Hyundai, Renault, Fiat e por aí vai. E ai de quem surgir na sua frente. Onde? Na faixa de segurança! Esta faixa, bem delineada, no mundo inteiro é preferencial legal do pedestre… Menos aqui. E o pedestre já desenvolveu tamanho mecanismo de autodefesa que nem em sonhos sonha atravessar as ruas decantadas por Mário Quintana com suas faixas de segurança semi-apagadas…

Na Alemanha, a faixa de pedestres é chamada, plasticamente, de “Zebrastreifen” ou faixa zebrada. Aqui, tudo anda do avesso: além de os caros carros importados de lá virarem literalmente latas e seus condutores, viralatas, a faixa zebrada vira zebra. Sabe no futebol, quando seu time não tem a mínima chance de enfrentar o adversário, vira “zebra”, tipo Grêmio atual. Também o nosso coitado do pedestre vira zebra total. Chance praticamente nenhuma de um viralata parar a sua lataria e dar preferência a uma zebra. Que estranho cruzamento este de viralata com zebra… É o que assistimos todo o dia, a toda hora, a todo minuto, a todo segundo em nossa capital de tantas ruas e avenidas encantadas que o nosso poeta maior nem em sonhos sonhou!

Como em minhas veias circula um sangue anti-viralata, nas poucas andanças pelas ruas nestes tempo pandêmico, resolvi testar uma vacina aqui em movimentada rua em frente de casa em direção à Praça Encol, que já começou a dar sinais de extrema eficácia. Falta agora só encontrar uma Anvisa e um competente administrador, que, com sua equipe competente de assessores. O segredo é simples: eu me aproximo o suficiente para dar sinais evidentes de que pretendo atravessar a faixa de segurança e, pelo ânimo dos viralatas ameaçadores dos meus direitos preferenciais, já vou fazendo ostensivamente o sinal de negativo, movimentando o braço e apontando com o polegar para o chão, em sinal de desaprovação. Se o “viroulata” para e, por magia, revirou cidadão, eu aponto para cima em sinal de aprovação e de agradecimento pelo inusitado gesto e trato de atravessar logo.
Se o viroulata continua viralata, levou pelo menos um lembrete e, quem sabe, da próxima vez vira cidadão de Primeiro Mundo.
Andorinha, sabidamente, não faz verão. Nem a Biontech e nem a Pfizer, por si sós, realizam a tarefa da imunização. No caso da Pfizer, levou chá de banco de horas, dias e meses até dobrar resistências negacionistas, ideológicas e obscurantistas de toda ordem em Brasília. No caso de Porto Alegre, Senhor Prefeito Melo, só nos restam exatos dois meses até o grande 26 de março de 2022. Com campanha desenvolvida por sua capacitada equipe de assessores, esta triste história de viralatas e zebras pode acabar aos 250 Anos! Polegares à obra e mexida no bolso dos recalcitrantes, e Porto Alegre vai virar a capital turística da auto-estima recuperada, do Pacto Alegre, do Instituto Caldeira, do Polo Histórico, Cultural, Turístico, Gastronômico e de Lazer do Centro Histórico de Porto Alegre, do Pacto Alegre e de tantos superlativos que estão a caminho. Nem tudo será possível concretizar até o próximo 26 de março dos 250 Anos da capital, mas quem sabe até nem mesmo até o final das festas comemorativas em dezembro de 2022. Mas uma outra data comemorativa está a caminho: os 200 Anos da Imigração Alemã ao Brasil em 2024, quando a capital gaúcha poderá recuperar o státus de Cidade Sorriso e, quem sabe, voltar a lembrar “a cidade dos alemães durante 100 anos”, conforme descoberta do atento cronista David Coimbra e relembrado em sessão solene da Câmara de Vereadores de Porto Alegre na homenagem especial pelos 190 Anos da Imigração Alemã em 25 de Julho de 2014.

Se nossos sonhos não forem pequenos, até a icônica Angela Merkel, poderosa madrinha da onda imigratória na Alemanha, poderá dar as caras por aqui, justo para coroar o encerramento dos memoráveis quatro anos da atual Administração Municipal de Porto Alegre. E ela estará escrevendo uma das páginas mais memoráveis a serem legadas para a história por centenas de municípios deste imenso Brasil pelas conquistas e comemorações da imigração pioneira no Brasil, País de Imigrantes.

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