Imigrantes de língua alemã e o desenvolvimento educacional em São Paulo – por Bruno Gabriel Witzel de Souza
“Por histórias familiares, relatos memorialísticos de organizações fundadas por imigrantes e pelos rankings de escolas no Brasil, nossa atenção é frequentemente despertada para o fato de que instituições de ensino com longa tradição histórica, fundadas por imigrantes de língua alemã, tiveram e mantêm um papel destacado no nível educacional brasileiro.
É também fato reconhecido na literatura universitária que os imigrantes alemães no Brasil tinham, em média, uma vantagem educacional sobre os nacionais e que fundaram o maior número de escolas estrangeiras antes dos processos de nacionalização da década de 1930.
Agora, em um artigo publicado na revista acadêmica “The Economic History Review”, eu discuto o impacto que os imigrantes de língua alemã – incluindo os alemães pré- e pós Unificação de 1871, suíços de língua alemã e uma minoria de austríacos – tiveram sobre o nível educacional paulista.
O artigo, intitulado “Imigração e dependência educacional: o caso dos imigrantes de língua alemã em São Paulo, Brasil (1840-2000)”, baseia-se em uma linha de pesquisa iniciada por volta do ano 2000. Pesquisadores em desenvolvimento e história econômica reformularam uma ideia simples, mas poderosa – que já havia sido explorada por outras ciências sociais e nas humanidades.
Trata-se da ideia de que o nível de desenvolvimento de uma região depende, dentre outros elementos, de uma série de determinantes históricos. Decisões tomadas no passado e a maneira como nossos antepassados viam o mundo influenciam as decisões que tomamos hoje e o modo como nós próprios lidamos com os desafios atuais.
Poucas coisas na história e em nossa sociedade são lineares, porém. Alguns episódios tendem a desviar uma rota traçada por decisões anteriores. A migração internacional é um fator poderoso nesses desvios, pois os imigrantes não trazem apenas braços para trabalhar e dinheiro acumulado nos países de origem, mas também suas ideias, suas visões de mundo, a educação que receberam e, a depender de suas idades, a profissão que aprenderam. Todos esses fatores têm o potencial de influenciar o caminho de desenvolvimento dos países que recebem imigrantes – um potencial que vai ou não se desenvolver dependendo da maneira como são estabelecidos e como se relacionam com a população local.
Baseado nesta ideia, o artigo usa métodos econômicos e estatísticos para testar a hipótese de que os imigrantes de língua alemã influenciaram o nível de educação dos municípios paulistas nas décadas de 1870, 1910 e 2000. A primeira data reflete os impactos imediatos dos imigrantes, a maioria dos quais foi trabalhar nas fazendas café. A segunda permite vermos um impacto mais longo, dando aos imigrantes tempo suficiente para se instalarem nas cidades ou bairros rurais e fundarem suas escolas. Finalmente, a análise para os anos 2000 busca determinar se houve um processo de dependência histórica no desenvolvimento educacional paulista.
De fato, nenhum efeito direto foi encontrado para os anos de 1870 e 2000. No primeiro caso, os imigrantes de língua alemã ainda não haviam tido o tempo necessário para espraiar seus potenciais benefícios para o nível educacional. No segundo, os impactos que tiveram acabaram sendo dissipados por outras forças históricas e determinantes atuais da educação.
Isso não quer dizer, porém, que esses imigrantes não tiveram um impacto importantíssimo na educação paulista. Pelo contrário: as escolas fundadas pelos imigrantes de língua alemã influenciaram substancialmente o número de matrículas na década de 1910. Talvez ainda mais importante é o fato de que essas escolas impactaram não apenas as matrículas em instituições privadas e associativas, mas também em escolas estaduais. Isso significa que, em São Paulo, os imigrantes de língua alemã não apenas incrementaram o nível educacional dentro do próprio grupo, mas exerceram também uma influência positiva sobre a populacão local.
Para informacoes mais aprofundadas, consulte o artigo em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ehr.12575/abstract
O autor se disponibiliza, com grande interesse, em discutir o tema pelos emails:
bwitzel1@gwdg.de ou bruno.witzel@gmail.com
Bruno Gabriel Witzel de Souza é doutorando em Economia do Desenvolvimento pela Georg-August-Universität Göttingen e membro de um grupo de pesquisa fundado no interior de São Paulo para o estudo das relações Brasil-Alemanha, com foco em São Paulo. O “Grupo Davatz-Sangbaul” congegra alguns jovens pesquisadores, sobretudo da USP e UNESP, na empreitada de reunir, discutir e realizar trabalhos sobre as relações históricas e atuais entre os dois países.”