Meus dias com Maria – por Ivar Hartmann*

Para isso precisava de um carro para andar por estradinhas francesas pouco transitadas, em lugares remotos, que não são destinos turísticos internacionais. Como a Espanha e Portugal estão em crise econômica, e a mão de obra é barata, me sugeriram o apoio técnico de quem, mesmo não conhecendo história, era expert em geografia da região.

Acertados os valores pelo serviço, quando retirei o carro, Maria já estava á disposição para me acompanhar. Dentro da indumentária própria de um guia de viagem. Assim durante nove dias e noites a Maria e eu fomos companheiros únicos em uma viagem por lugares estranhos onde cada noite era passada em um hotel diferente. Os hoteleiros hoje são espertos: tem duas camas no quarto, use um ou duas, o preço é o mesmo. De sorte que tanto fazia quantas camas eu usasse. Foi uma experiência interessante. Como sou de natureza recatada, deixo as ilações para os maldosos e me atenho à parte diurna da viagem.

Quanto à competência, diria que ela entendia do assunto e valeu a pena pagar. Conhecia a região por viagens anteriores e normalmente acertava no rumo a tomar nas encruzilhadas. Foi indispensável em alguns momentos. Reclamações? Várias. Primeiro: não sabia como português é teimoso. Se embestava – com as informações que tinha dos apontamentos que possuía – que o rumo era um, não adiantavam as placas indicativas de trânsito informar o contrário. Só me restava um “Cala, pelo amor de Deus!”. Segundo: nas cidades maiores era um zero á esquerda ao escolher ruas, procurar o número das casas ou indicar soluções quando estávamos os dois perdidos. A tal ponto que, mesmo com a obviedade de que números pares eram de um lado e ímpares do outro, insistia em buscar outra solução.

Tantas vezes ocorreu que ao final eu apenas repetia: “É. Em Portugal é assim, mas aqui não é!” Mas para quem ia viajar sozinho, a companhia dela nestes dias foi ótima. Sempre é bom ouvir alguém falar quando a gente está silencioso, preocupado com o trânsito. Falar deve ter sido o grande atributo que seus pais lhe deram. Falava e falava. Tanto que, por certo cansada, de noite silenciava. E era melhor mesmo, porque melhor que falar é agir. E a noite, cansado do dia, nada como deitar e usufruir a vida. Resumindo: foi ótimo meu GPS.

ivarhartmann@hotmail.com 

*Ivar Hartmann é promotor público aposentado e colunista do Jornal NH, do Grupo Sinos, de Novo Hamburgo, RS, parceiro BrasilAlemanha na transmissão do programa radiofônico AHAI – A Hora Alemã Intercomunitária/Die deutsche Stunde der Gemeinden.

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