Sobre livros, autores em um leitor (III) – por Edgar Welzel

Um dos autores mais lembrados da Literatura Mundial é Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) que nos deixou o “El ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha”. Na maioria dos países a obra é conhecida com o simples título “Dom Quixote” , leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela literatura dos grandes clássicos espanhóis e um dos mais significantes livros da literatura mundial.

 

“Dom Quixote” é obra não só rica em narrações de aventuras fictícias de um cavaleiro medieval; é rica também em personagens. Além das duas figuras principais, o próprio Dom Quixote e o seu escudeiro Sancho Pança, algo ao redor de outras seiscentas e cincoenta figuras aparecem ao longo do enredo. Não tencionamos discorrer sobre o conteúdo, nem fornecer um resumo, tampouco nos interessam as centenas de personagens. Interessa o autor cuja vida igualmente rica em aventuras, no entanto não fictícias, decorreu, muitas vezes, beirando a tragédia.

 

Miguel de Cervantes foi o quarto filho, entre sete, de uma família pobre da nobreza de Alcalá de Henares, lugarejo próximo à Madrid, mas na época já um centro universitário. O pai, Rodrigo de Cervantes, médico cirurgião, tornou-se mais conhecido por seus insucessos; sobre a mãe, Leonor de Cortinas, pouco se sabe.

 

Após estudos preliminares, o jovem Cervantes estudou Teologia nas Universidades de Salamanca e de Madrid. Aprofundou seus estudos com Juan López de Hoyos, um dos grandes humanista e eruditos da época. Em 1569, com 22 anos, indiciado pela justiça espanhola, fugiu para Roma onde foi camareiro do cardeal Giulio Acquaviva. No mesmo ano ingressou na Marinha do rei da Espanha em Nápoles e, em 7 de outubro de 1571, participou da Batalha de Lepanto, no Golfo de Patras, no Mar Jônico (hoje Grécia), sob o comando de Don Juan da Áustria que venceu os turcos. Cervantes foi ferido por três projéteis: dois no peito e um na mão esquerda que ficou deformada para o resto de sua vida razão pela qual recebeu o apelido de “El Manco do Lepanto”.

 

Em 1575, ainda na Marinha Espanhola, Cervantes foi aprisionado por piratas turcos da Argélia e levado como escravo para Argel (na época parte do Império Otomano) onde permaneceu cinco anos em mãos e a serviço de Hassan Pacha, bei de Argel, que o tinha comprado.

 

Após quatro tentativas de fuga, Cervantes foi libertado e levado à Espanha graças a uma fiança paga pela Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos, fundada em fins so século 12, em Cerfroid, nas imediações de Paris. Entre 1580 e 1582 novamente na Marinha Espanhola, participou em ações militares contra Portugal e os Açores.

 

A primeira obra publicada por Cervantes foi “Los Tratos de Argel”, uma peça teatral, que não teve sucesso na qual abordou suas vivências durante o cativeiro naquela cidade. Endividado, dedicou-se a literatura na esperança de resolver seus problemas pecuniários.

 

Em 1584 surgiu seu primeiro romance “La primera parte de la Galatea”que, já em 1588, foi traduzido para o alemão. No mesmo ano casou com Catalina de Salazar y Palacios, bem mais jovem do que ele, com a qual não teve filhos. Ao mesmo tempo Cervantes teve um relacionamento com Ana Franco de Rojas, uma artista teatral, com a qual teve uma filha ilegítima, Isabel de Saavedra. O casamento com Catalina durou apenas dois anos. Separou-se dela em 1590.

 

No mesmo ano, seguindo sua sua vida aventuresca, Miguel de Cervantes candidatou-se ao cargo de governador da Província de Soconusco que corresponde hoje, mais ou menos, à Província de Chiapas, no México, que ficara vacante. Seu pedido foi revogado por Felipe II e, em consequência, Cervantes permaneceu na Marinha como “Comissário de Abastecimento”. Em virtude de uso ilícito de verbas públicas, Cervantes foi condenado à prisão em Sevilha em 1597/98. Aparentemente houve outro período de prisão, não totalmente confirmado, em 1602.

 

Cervantes começou a redigir o seu “El ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha” durante a prisão em Sevilha. A primeira parte foi publicada em 1605; a segunda, dez anos depois, em 1615. Um cronista da época, comentou-o: “É um livro que as crianças folheiam; os jovens o leem; os adultos o entendem e os idosos o elogiam”.

 

Nesse entremeio Cervantes publicou “Novelas ejemplares” que, na época, em seguida, também foi traduzido para o alemão e ao francês. Em 1617 Cervantes publicou seu romance “Los trabajos de Persiles y Sigismundo”.

 

Otto Maria Carpeaux deixou-nos um pequeno mas excelente texto com o título “Cervantes e o Dom Quixote”, publicado numa edição do “Dom Quixote” do Círculo do Livro (sem data) de São Paulo. Carpeaux explica por que a obra é tão importante: “Antes, só havia romances em versos, de grande interesse histórico, mas hoje tão ilegíveis como os romances de cavalaria cuja fama o próprio Cervantes erradicou. O Dom Quixote é propriamente o primeiro romance, em prosa, que continua lido até hoje. Sua influência é evidente em obras tão diferentes como Tom Jones de Fielding, Almas Mortas de Gógol, de Dickens, de Balzac e de Flaubert, no Idiota de Dostoiévski, até no Ulysses de Joyce. É o romance dos romances”.

 

Miguel de Cervantes tornou-se famoso com o seu “Dom Quixote” mas é quase totalmente desconhecido que Cervantes, além do “Dom Quixote”, é autor de mais de 40 outras obras. Certo é que o “Dom Quixote” trouxe-lhe fama e algum dinheiro que, infelizmente, acabou perdendo. Cervantes morreu pobre em 23 de abril de 1616 em Madrid. Morreu tão pobre que a Ordem das Monjas Descalças da Santíssima Trindade, a parte feminina da mesma ordem que o resgatara do cativeiro em Argel, apiedou-se em enterrá-lo em seu mosteiro em Madrid. Um cronista da época assim o definiu: “Viejo, soldado, gentilhombre y pobre”.

 

Desde a morte de Cervantes já passaram 398 anos e, até hoje, os restos mortais nunca foram encontrados. Em quatro séculos o Mosteiro das Monjas Descalças passou por inúmeras reformas com a consequência de que seu sepulcro perdeu-se na penumbra da História mas o seu “Dom Quixote” continua vivo.

 

Em 2013 a municipalidade de Madrid bem como o governo regional liberaram uma verba para a procura dos restos mortais do grande clássico espanhol nas áreas internas e externas do mosteiro. Geólogos, cientistas e historiadores espanhóis puseram-se ao trabalho. Em fins de 2014, após escavarem nos subterrâneos do Mosteiro das Monjas Descalças encontraram restos de madeira de vários sarcófagos um dos quais trazia as iniciais “M.C”.

 

O jornal espanhol “El País” mencionou que os cientistas creem que “muito provavelmente” se trata dos restos mortais de Miguel de Cervantes. De momento, o DNA de resquícios de ossos encontrados junto ao sarcófago com as iniciais “M.C.” estão sendo analisadas em um instituto em Madrid.

 

No mesmo dia, 23 de abril de 1616, outro grande autor da Literatura Universal morreu em Stratford-on-Avon: William Shakespeare. A coincidência das datas sempre foi motivo para especulações fantasistas que, em verdade são infundadas. Fato é que já em 1582 a Espanha, na época dos reis católicos Fernando e Isabel, adotara o calendário gregoriano, decretado pelo Papa Gregório XIII; a Inglaterra protestante só o introduziu em 1752. Assim, a verdadeira data da morte de William Shakespeare é 3 de maio de 1616.

 

Uma das mais conhecidas obras de Shakespeare talvez seje o seu imortal Romeu e Julieta. A pobre Julieta que morreu de amores por seu amado Romeu e a briga das duas famílias, os Montecchios e os Capuletos, enfim o enredo da obra com a trágica história de amor, uma vez lida na juventude, grava-se na memória do leitor e o acompanha para o resto da vida.

 

Depois de quatrocentos anos, apenas recentemente, há cerca de dez anos, descobriu-se que Julieta não morreu. Continua viva não só para os habitantes de Verona, cidade-palco da mais conhecida história de amor da Literatura Universal, mas para muita gente em outras partes domundo.

 

Quem o sabe, descobri-o há pouco quando estive em Verona, é o aposentado Gianni Carrabetta que, passeando pelas ruas históricas da Verona antiga, acompanhado por seu cãozinho que curiosamente atende pelo nome de Romeu, casualmente observou uma mulher que afixara um bilhete no muro da casa na qual vivera, e para muitos ainda vive, a inesquecível Julieta.

 

Gianni que, segundo me disseram, não é curioso mas quer saber tudo, delicadamente pegou o bilhete entre polegar e indicador, abriu-o e leu: “Julieta, desejo de todo o coração um pai para o meu filho que está por nascer”.

 

Lido o texto, a curiosidade de Gianni cresceu e logo ele soube que bilhetes e cartas coladas naquele muro, com fervorosos pedidos a Julieta, são frequentes. Por várias semanas perambulou pela cidade, sempre acompanhado por seu Romeu, a fim de descobrir quem é que os recolhe e qual é o destino que se lhes dá.

 

Gianni Carrabetta teve sorte. Na Via Galilei encontrou a sede do “Club di Giulietta” no qual trabalham, voluntariamente, quinze pessoas para responder às cartas e aos bilhetes de pedidos amorosos e fervorosos de pessoas de todo o mundo. São dez mil cartas que o “Club” recebe via correio e outros tantos bilhetes que são afixados no muro por ano, a maioria dos Estados Unidos, do Japão, da Rússia e da Alemanha e todas recebem resposta redigida em caligrafia manual. O “Club di Giulietta” é tão conhecido que os carteiros entregam as cartas com endereços simples como: “Juliet – Verona”, ou “Giulietta-Verona”, “Juliete-Verona”, “Juliette-Verona” ou mesmo “Romeu e Julieta – Verona”. Todas chegam.

 

Gianni Carrabetta candidatou-se para ajudar em responder às cartas. Foi aceito. Em sua vida anterior Gianni era executivo numa firma da indústria farmacêutica. Hoje ele é secretário de Julieta e assina todas as respostas com o seu verdadeiro nome: Julieta. Romeu cochila tranquilamente a seus pés e com o olhar de cão fiel, também parece estar convencido de que Julieta ainda vive.

 

Não é apenas Julieta que recebe cartas. Romeu também as recebe se bem que em menor quantidade. Curioso é que não são apenas representantes do mundo feminino que escrevem a Julieta. Rapazes e homens também se dirigem a ela. Mas nunca um homem pediu a Julieta que o ajudasse “a procurar um pai para meu filho que está por nascer”.

 

Enquanto relato estes detalhes sobre as zelosas atividades em Verona resultantes do “Romeu e Julieta” lembrei-me do próprio Shakespeare. Absorto em divagações vejo-o perambulando pelas ruas de Stratford-on-Avon envoltas em neblina e, por razões para mim inescrutáveis, vem-me à tona o nome de outro autor, não menos famoso – embora com obras completamente diferentes – que morreu sete décadas antes do inolvidável Shakespeare e que revolucionou o mundo.

 

Seu nome Niklas Koppernigk (1571-1630). Após estudos preliminares em Thorn, sua cidade natal, na época Prússia, hoje pertencente à Polônia, Koppernigk iniciou seus estudos superiores na Universidade de Cracóvia que não chegou a terminar. Matriculou-se na Universidade de Bolonha onde estudou Direito, Grego e Astronomia; formou-se em Medicina na Universidade de Pádua e em Direito Canônico na Universidade de Ferrara onde obteve o título de “doctor iuris cononici”, doutor em direito canônico.

 

Koppernigk regressou a sua cidade natal em 1503 onde inicialmente trabalhou como médico, cônego e administrador eclesiástico. Nas horas vagas, ocupava-se com a matemática e astronomia. Durante seus estudos na Itália Koppernigk, seguindo uma prática de estudiosos da época, latinizou seu nome em Niklas Kopernikus que, em português transformou-se em Nicolau Copérnico.

 

Copérnico publicou varios tratados científicos sobre temas eclesiásticos, astronomia, matemática, trigonometria e um tratado sobre questões monetárias. Sua obra principal “De Revolutionibus Orbium coelestium, Libri VI” (Da Revolução dos Corpos Celestes) só foi publicada em Nuremberga no ano de sua morte, em 1543, embora já ter desenvolvido a teoria heliocêntrica do sistema solar décadas antes. Em 1509 já entregara rascunhos a alguns estudiosos com a observação de que os “cálculos matemáticos ainda terão que ser revistos”.

 

A publicação tardia de sua obra principal provavelmente tenha sido simples medida de precaução. Copérnico viveu em plena época da Inquisição e a igreja católica defendia a teoria geocêntrica desenvolvida por Aristóteles. Quem defendia outras teorias era candidato às fogueiras da Inquisição.

 

“Da Revolução dos Corpos Celestes” foi obra de grande impacto de forma que seguiu-se logo uma segunda edição. Ambas chegaram a cerca de 500 volumes. Para o mundo científico da época 500 exemplares já era edição voluminosa. Da primeira edição de 1543 restam raríssimos exemplares espalhados nas melhores bibliotecas do mundo.

 

Na noite de 2 de setembro de 2004 a “Herzogin Anna Amalia Bibliothek” (Biblioteca Duqueza Ana Amália) de Weimar, cidade do Estado da Turíngia, no sudoeste da Alemanha, foi parcialmente destruída por um incêndio que irrompeu no teto de uma das alas da edificação. A biblioteca foi fundada em 1691 pelo duque Guilherme Ernesto. Em 1991, por oportunidade dos festejos de seu 3° Centenário, a biblioteca recebeu o nome de Biblioteca Duqueza Ana Amália que fora sua grande incentivadora.

 

A biblioteca não é a maior do mundo mas é uma das mais importantes por seu incomparável acervo de mais ou menos um milhão de exemplares especialmente da literatura alemã do Iluminismo até ao fim do Romantismo. Entre as raridades encontram-se cerca de dois mil livros manuscritos, entre os quais um evangelho carolíngio do século 9, 427 incunábulos e coleções da época da Reforma e centenas de riquíssimas iluminuras da Idade Média. Além disso encontram-se as bibliotecas completas da família von Arnim, Liszt, Nietsche, Haar e a da Sociedade Shakespeare da Alemanha. A biblioteca é mundialmente conhecida por seu belíssimo salão ovalado, com três andares, em estilo rococó.

 

Após a morte da duqueza Ana Amália seu filho, Grão-Duque Carlos Augusto (1757-1828), assumiu os negócios de Estado. Carlos Augusto foi grande admirador de Johann Wolfgang von Goethe. Foi ele quem o convenceu de vir de Frankfurt à Weimar onde o grande literato permaneceu até a sua morte sempre às custas de verbas públicas. Em 1797 Carlos Augusto nomeou Goethe, além das outras tarefas às quais já respondia, diretor da Biblioteca Ana Amália.

 

Mas Goethe, apesar de ter sido um gênio erudito de cultura universal, foi um grande safado. Como diretor andava sempre a comprar livros para a Biblioteca Ana Amália que pagava com verba pública mas surripiava as obras mais importantes para a sua biblioteca particular. Mesmo assim, Goethe não foi um safado egoísta. Deixou em testamento que, após a sua morte, o seu acervo deveria passar à propriedade do Estado.

 

Conservou-se, desta forma, toda a sua biblioteca particular de 43 mil volumes, 18 mil pedras preciosas e semipreciosas do Brasil que colecionara durante sua vida, além de milhares de documentos sobre botânica, geologia e mineração e obras de arte, principalmente italianas e da Grécia Antiga. Tudo isto pode ser visto, tal e qual como ele o deixara, em sua mansão de 42 cômodos na Praça Frauenplan em Weimar. Todo o acervo de Goethe faz parte da Biblioteca Ana Amália.

 

Na ala na qual irrompeu o incêndio encontravam-se 196 mil volumes, a maioria dos quais no Salão Rococó, dos quais 50 mil foram totalmente devorados pelo fogo. 118 mil volumes sofreram sérios danos por fogo, altas temperaturas, água dos bombeiros, fuligem, fumaça e demais sujeira. Muitas das 3 mil partituras musicais manuscritas são consideradas como perdidas entre as quais partituras de Orlando di Lasso, Johann Nepomuk Hummel e Karl Siegmund von Seckendorf.

 

Os 80 funcionários da biblioteca, apoiados por centenas de voluntários, começaram a catar nos escombros à procura de restos chamuscados, de páginas soltas, meia páginas e, inimaginável mas verdadeiro, até as cinzas passaram por um processo de filtragem à procura de restos de papel, por menor que fossem, mesmo tendo apenas uma ou duas letras, tudo foi guardado para eventual uso na restauração.

 

O trabalho de restauração é tarefa complicada, um verdadeiro puzzle, que exige experiência e equipamentos adequados. A maioria dos 118 mil volumes danificados foi entregue a 27 institutos especializados em diversos países europeus. São instituições que mais parecem laboratórios altamente sofisticados do que oficinas artesanais.

 

Os custos para a reconstrução do prédio com o Salão Rococó seriamente danificado e a restauração de 118 mil compêndios são astronômicos. As verbas vem do governo alemão, do Estado da Turíngia, de empresas e pessoas particulares que fizeram donativos. Verbas adicionais vieram de países europeus. Muitas bibliotecas ao redor do mundo ofereceram exemplares quando tinham mais de um em seu acervo. Até o presidente Barak Obama, que em 2009 esteve em Weimar, levou em sua bagagem dois valiosos livros que presenteou à biblioteca.

 

Uma das obras que tinha sido dada como perdida e que foi encontrada recentemente entre a montanha de livros altamente danificados foi o “De Revolutionibus Orbium coelestium, Libri VI” de Copérnico. Segundo Michel Knoche, diretor da biblioteca, a obra se encontra em mãos de uma firma especializada em Weimar encarregada da restauração.

 

A alegria em encontrar esta raridade bibliográfica foi grande pois afinal a obra representa um marco histórico na História da Astronomia e, segundo especialistas, é de inestimável significado para a ciência e a história cultural da Idade Moderna que teve início com um médico, cônego e administrador eclesiástico que só nas horas vagas se dedicara à matemática e à astronomia: Nicolau Copérnico, grande sábio da Idade Média.

 

Os esforços da equipe de técnicos da Biblioteca Ana Amália de Weimar juntamente com os especialistas de 27 instituições localizadas em diversos países europeus para restaurar 118 mil livros danificados pelo fogo, sem falar nos custos que o projeto, que poderá durar entre 30 e 40 anos, acarretará, são admiráveis. O zelo e o empenho empregado demonstra que a conservação de tesouros culturais de épocas passadas representa riqueza cultural para as gerações futuras.

 

Tanto mais triste e desolador é o que vem acontecendo em outra parte do mundo onde uma horda de bárbaros faz exatamente o contrário: Em junho de 2014 radicais do Estado Islâmico (IS) se apoderaram de Mossul, segunda maior cidade do Iraque. Dezenas de mesquitas e igrejas foram dinamitadas até aos alicerces entre as quais o famoso Mausoléu do profeta Jonas, na região, símbolo de interrelacionamento religioso. A famosa Mesquita Vermelha, do século 12, no centro de Mossul, também foi transsformada em escombros. Em janeiro de 2014 membros das mesmas hordas devastaram a Biblioteca da Universidade e atearam fogo na Biblioteca Central de Mossul transformando em cinzas mais de oito mil documentos manuscritos de inestimável valor cultural histórico.

 

As imagens que percorreram o mundo em fins de janeiro passado mostrando elementos do IS destruindo a martelaço obras de arte milenares são apenas a ponta do iceberg. Tudo isto num lugar chamado Mesopotâmia que, durante séculos, foi visto como o berço da Humanidade.

 

Enquanto em Weimar especialistas se empenham em recuperar livros até das cinzas que sobraram de um incêndio, em Mossul, e em outras partes do Iraque e da Síria, bárbaros do IS fazem o contrário, transformam livros em cinzas. Dois mundos, duas culturas e dois comportamentos, segundoparece, incompatíveis.

 

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